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sábado, 9 de janeiro de 2010

Let It Snow!

Este é já o quarto Inverno que passo em Londres, e está a ser, sem dúvida, o mais frio até agora. Desde meados de Dezembro que as temperaturas rondam os zero graus, estando muitas vezes abaixo desse valor.

Enquanto em anos anteriores foram poucos os dias em que nevou, este ano já há várias semanas que pelo menos uma vez por semana nos maravilhamos com este fenómeno meteorológico. Isto porque embora a neve (ou a a falta de preparação em caso de neve) cause alguns contratempos, tais como aeroportos fechados, voos cancelados, estradas com gelo, metros parado, comboios atrasados, a verdade é que quase toda a gente que conheço fica excitada com a perspectiva de neve. Um pouco por todo o Reino Unido se sentem os efeitos deste frio siberiano, que já está a causar problemas na economia (devido ao elevado número de pessoas impossibilitada de se deslocarem para os seus empregos) mas que faz as delícias de muita gente que aproveita para se divertir na neve.

A Nasa disponibilizou uma imagem de satélite absolutamente fantásticaem que se vê o Reino Unido completamente pintado de branco:

Photo: NASA/GSFC, MODIS Rapid Response

Na agência onde trabalho há um certo ritual que se cumpre sempre que há ameaças de neve. Começa sempre quando alguém repara que na previsão do tempo - a eterna obsessão britânica pelo tempo – há indicação que irá nevar num dos próximos dias. A palavra espalha-se, começam-se a ouvir rumores. A palavra neve é repetida pelos departamentos da agencia mais vezes que a palavra GRP (e olhem que nós dizemos várias vezes ao dia GRP). Começamos a receber emails dos Recursos Humanos, ora a pedir para confirmar o nosso número de telémovel, ora a dar-nos o número para onde ligar caso a improvável (como eles sempre sublinham) situação do escritório fechar se concretize.
Sente-se a excitação a aumentar - os que moram mais longe sorriem com a perspectiva de não trabalhar no dia seguinte por falta de transporte disponível, os que moram mais perto ficam frustados por morar tão perto do escritório que não dependam dos comboios, que regra geral não se dão bem com neve.

Até que finalmente começam a cair os primeiros flocos. Isto óbviamente não passa despercebido a ninguém, pois desde que se sabe que vai nevar, toda a gente olha para a janela de cinco em cinco minutos com esperança de ver um farrapo branco a flutuar. A palavra espalha-se: ''Está a nevar!", qual anunciação do Messias que nos vai salvar a todos do tédio que é ter de trabalhar quando neva. Uns fingem-se desinteressados - "até parece que nunca viram neve", murmuram , embora não resistam a espreitar pelo canto do olho com mais frequência do que desejariam mostrar. Outros correm para as janelas, uns tentam até, em vão, tirar fotos pela vidraça usando o telemóvel. Os mais entendidos nestas coisas da neve, geralmente oriundos de paises escandinavos ou de leste, vão dando palpites sobre as condicões da dita cuja: "Está muito mole", "Não está frio o suficiente, não vai pegar", "Isto são só uns farrapinhos, nem é neve", até que finalmente se rendem e dizem coisas tipo "Olha agora como ela cai, parece que estou em casa!". Aqueles, como eu, oriundos de paises onde a neve não é assim tão habitual, tentam conter o entusiasmado e pedem ao santinho responsável pela neve que ela se mantenha para poderem mandar umas quantas bolas uns aos outros ou quem sabe até, construir um boneco de neve como aqueles que vemos na TV, com ramos a fazer de braços e uma cenoura a fazer de nariz.

Na passada terça-feira à noite começou a nevar mais uma vez este ano. Por volta da onze da noite fui à janela e foi com surpresa que vislumbrei que estava tudo branquinho na minha rua (não resistindo até a tirar uma foto).



Isto pode até parecer um pouco provinciano, mas eu sou uma rapariga que cresceu com sol e calor, e em pequena fui habituada a adormecer com o som das ondas a bater. Ver assim neve é algo que ainda hoje uma coisa que me impressiona, e não sei explicar bem o porquê me deixar feliz.

Na quarta de manhã havia ainda mais neve acumulada na rua, nos carros, nas árvores, e durante a viagem para o emprego comecei a desejar não ir, e ficar a brincar com os miúdos que alegremente construíam bonecos e faziam guerras de bolas de neve. Consegui tirar umas fotos para publicar no blog, para partilhar com quem me lê as imagens da minha vizinhança em tons de branco.

Eu não explicar bem o que é. Talvez seja o barulho que faz quando a pisamos, a textura quando a agarramos, a sensação que nos dá quando nos bate na cara, mas a neve faz-me sentir criança outra vez.


Nem mesmo o ter de andar com cuidado para não escorrer no gelo quando se quer correr para o autocarro me faz mudar de ideias: praia e sol é muito bom, mas um pouco de frio e de neve também nos aquece a alma.