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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Behind the Mask

Desde pequena que me lembro de festejar o Carnaval. De adorar as serpentinas, as pinturas, os brilhantes. Os fatos dedicamente cosidos pela minha mãe, desde cow-girl a princesa, passando por fada, enfermeira, capuchinho vermelho. Lembro-me das noites passadas com a minha mãe em sedes de escolas de samba: enquanto ela cosia com outras mulheres que tentavam ganhar uma luta contra o tempo usando lamé e lantejoulas, eu brincava com as outras crianças às escondidas, ao fogo à barra, ou a imitar as meninas mais crescidas que iam no desfile.

Fui crescendo e o fascínio pelas escolas de samba foi decrescendo, mas não o fascinio pelo Carnaval em si. Na minha terra diz-se que a vida são dois dias, e o Carnaval são quatro. Quatro noites em que tinhamos de pensar em quatro fatos diferentes para sair nas quatro noites de Carnaval. Dançar no ginásio ao som de marchas carnavalescas cantadas com um sotaque brasileiro dúbio eram algo pelo qual ansiávamos durante meses. As escolas de samba eram naquela altura apenas um barulho distante durante o dia, que nos impedia de dormir e recuperar forças para mais uma noite de folia.

Das máscaras de menina passei a vestir-me de Morte, de Robin dos Bosques, de Sininho, de Mecânico, de Indiano vendedor de rosas (não há politicamente correcto no Carnaval minha gente!), de Indiana, de M&M vermelho, até de Acorrentados (uma noite com uma data de gente acorrentada não é tão divertido como se possa pensar).
Assisti passivamente ao ponto de viragem que foi o surgimento dos grupos olodum, e para ser do contra juntei a minha voz (nem sempre afinada) a uma escola de samba que era uma verdadeira família. Durou pouco esta brincadeira,  mas as noites de Carnaval foram sempre uma altura do ano pela qual ansiar. Correr as sociedades, tirar uma foto à porta do Grémio e dançar ao som do "Amigo Charlie" no meio do ginásio era o expoente máximo do adolescente.

Sempre me causou alguma confusão as pessoas que não gostam do Carnaval. Não porque não gostam, mas porque não entendem quem gosta. Na maioria das vezes são pessoas para quem o Carnaval significa máscaras de meter medo e balões de água. É como dizer que não se gosta de Coca-Cola quando só se experimentou Cola do Minipreço.

O tempo passou e veio a universidade, o emprego, a vida adulta. Foram-se o ginário, as fotos no Grémio, e a busca da máscara perfeita. Vim para Londres e o Carnaval passou a ser um dia em que se comem panquecas antes da quaresma. Mas sempre ficaram as memórias no coração.

Por isso este ano voltei ao Carnaval, às máscaras, às pinturas na cara e às tintas no cabelo. E diverti-me e extravasei em passei um bom bocado, e quero sem duvida voltar a repetir.
Mas para o ano há mais, porque a magia do Carnaval é essa mesma, serem quatro dias em Fevereiro que valem por muitos mais.

Venha a Páscoa!