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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Just another day in paradise

Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.

Álvaro de Campos, in "Poemas"



sábado, 25 de fevereiro de 2012

Behind the Mask

Desde pequena que me lembro de festejar o Carnaval. De adorar as serpentinas, as pinturas, os brilhantes. Os fatos dedicamente cosidos pela minha mãe, desde cow-girl a princesa, passando por fada, enfermeira, capuchinho vermelho. Lembro-me das noites passadas com a minha mãe em sedes de escolas de samba: enquanto ela cosia com outras mulheres que tentavam ganhar uma luta contra o tempo usando lamé e lantejoulas, eu brincava com as outras crianças às escondidas, ao fogo à barra, ou a imitar as meninas mais crescidas que iam no desfile.

Fui crescendo e o fascínio pelas escolas de samba foi decrescendo, mas não o fascinio pelo Carnaval em si. Na minha terra diz-se que a vida são dois dias, e o Carnaval são quatro. Quatro noites em que tinhamos de pensar em quatro fatos diferentes para sair nas quatro noites de Carnaval. Dançar no ginásio ao som de marchas carnavalescas cantadas com um sotaque brasileiro dúbio eram algo pelo qual ansiávamos durante meses. As escolas de samba eram naquela altura apenas um barulho distante durante o dia, que nos impedia de dormir e recuperar forças para mais uma noite de folia.

Das máscaras de menina passei a vestir-me de Morte, de Robin dos Bosques, de Sininho, de Mecânico, de Indiano vendedor de rosas (não há politicamente correcto no Carnaval minha gente!), de Indiana, de M&M vermelho, até de Acorrentados (uma noite com uma data de gente acorrentada não é tão divertido como se possa pensar).
Assisti passivamente ao ponto de viragem que foi o surgimento dos grupos olodum, e para ser do contra juntei a minha voz (nem sempre afinada) a uma escola de samba que era uma verdadeira família. Durou pouco esta brincadeira,  mas as noites de Carnaval foram sempre uma altura do ano pela qual ansiar. Correr as sociedades, tirar uma foto à porta do Grémio e dançar ao som do "Amigo Charlie" no meio do ginásio era o expoente máximo do adolescente.

Sempre me causou alguma confusão as pessoas que não gostam do Carnaval. Não porque não gostam, mas porque não entendem quem gosta. Na maioria das vezes são pessoas para quem o Carnaval significa máscaras de meter medo e balões de água. É como dizer que não se gosta de Coca-Cola quando só se experimentou Cola do Minipreço.

O tempo passou e veio a universidade, o emprego, a vida adulta. Foram-se o ginário, as fotos no Grémio, e a busca da máscara perfeita. Vim para Londres e o Carnaval passou a ser um dia em que se comem panquecas antes da quaresma. Mas sempre ficaram as memórias no coração.

Por isso este ano voltei ao Carnaval, às máscaras, às pinturas na cara e às tintas no cabelo. E diverti-me e extravasei em passei um bom bocado, e quero sem duvida voltar a repetir.
Mas para o ano há mais, porque a magia do Carnaval é essa mesma, serem quatro dias em Fevereiro que valem por muitos mais.

Venha a Páscoa!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A foreigner mistake

O maior erro que se pode cometer quando se conversa com um estrangeiro em Londres é assumir que ele vem de um país que não é o seu. Especialmente se o país pelo qual perguntamos tem uma história qualquer com o país de origem. Tenho uma amiga da Lituânia cujo facto de lhe perguntarem se ela é Polaca é o suficiente para ela terminar a conversa no momento. Ou perguntar a um austríaco se ele é alemão. Ou a um português se ele é...espanhol.

Andou D. Afonso Henriques a bater na mãe para em pleno século XXI os estrangeiros não conseguirem distinguir o sotaque português do sotaque castelhano. E é tão simples...nó somos aqueles que conseguem pronunciar palavras qe começam pela letra S, como Spain, Special...(não se diz Espaine, nem Especiale, pelo menos em Inglês minha gente!). Outra coisa fácil distinguir é o facto de conseguirmos diferenciar a letra J da letra Y. Ainda me rio ao pensar no casamento junkie que uma amiga espanhola me descrevia, e que afinal não era um casamento cujo brinde era feito com heroína mas sim um casamento de americanos (yankee).

A verdade é que após 5 anos em Londres não houve uma única vez quem alguém se tenha deitado a adivinhar o meu pais de origem e adivinhasse. Sou espanhola 50% das vezes, contra 45% italiana, 2% de um pais qualquer de leste, 2% outros e 1% americana (sim alguém perguntou se eu era americana, ao que este mundo chegou).

O que é certo é que Portugal tem um problema de notoriedade além fronteiras e isso também se aplica ao nosso sotaque. Tão raro é alguém identificar a nossa origem pelo modo como falamos que se eu apostasse nisso as probabilidades de ganhar seriam de 1/100000.
Por outro lado, isso dá a todos os portugueses a viverem fora do pais um sexto sentido para encontrar conterrâneos. Eu quase sempre consigo identificar um dos nossos à légua, nem sei bem explicar porque...mas quando há duvidas, basta ouvir falar (em inglês, em português seria demasiado óbvio claro) para saber que é um apreciador de bacalhau com grão e cerveja Sagres. Um género de código só nosso, vamos lá. Tipo maçonaria, mas em bom.

PS: Esqueci-me de dizer que ao contrário de muito boa gente, a mim não me chateia nada que me perguntem se sou espanhola. Até me dá algum gozo jogar o jogo ao qual eu gosto de chamar "de onde é que tu achas que eu sou?". E nem sempre ganho, como foi ontem o caso que me inspirou a escrever este post, ao perguntar a uma rapariga se era espanhola quando na verdade era...peruana. Foi o entusiasmo de conhecer alguém latino que me toldou o julgamento, só pode.