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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

London Bridge is Falling Down

Estou em Londres há quase 3 anos.

3 anos a conviver lado a lado com Lord Nelson, que de topo da sua coluna em Trafalgar Square espreita pela janela da agência e me consegue ver, dia após dia sentada na secretária, a beber chá atras de chá.

3 anos a sentar-me no andar de cima dos famosos Double Deckers, os autocarros vermelhos de dois andares tipicamente londrinos.

3 anos a descer as escadas do famoso Tube, o metro londrino, até às entranhas da terra, interceptadas por milhares de carris que se cruzam e levam milhares (milhões?) de pessoas a todo o lado.

3 anos a citar o mapa do metro em segundos (mudar em Kings Cross para a Picadilly Line, em Bank para a Central Line...).

3 anos a esquivar-me à chuva e a cobiçar o sol.

3 anos a olhar para o lado errado quando atravesso a estrada (independentemente dos avisos pintados no alcatrão).

3 anos a pensar numa língua estranha que fica algures entre o português e o inglês, e por vezes a sonhar inteiramente em inglês. 3 anos a passar quase diáriamente junto a St. Pauls Cathedral, e a admirar o branco das pedras que compõem a sua magnífica estrutura.

3 anos a evitar turistas que tiram fotos incessantemente pelas ruas no centro de Londres.

3 anos a a resistir a beber chá com leite.3 anos a celebrar a implantação da República a 5 de Outubro, quando na realidade vivo numa Monarquia.

3 anos com inveja dos feriados religiosos em Portugal.

3 anos a ignorar milhas e a continuar a pensar em quilómetros.

3 anos a converter libras para euros inconscientemente.

E no entanto, mesmo após 3 anos, quando vou na rua ainda dou comigo a pensar 'Estou em Londres!' como se fosse algo inesperado que tivesse acontecido ontem. Ainda dou comigo a acelerar o passo para conseguir um lugar no andar de cima dos autocarros (nos lugares da frente de preferência, que a vista é melhor). Ainda me maravilho com Trafalgar Square e a National Gallery, o coração ainda bate um pouco mais forte quando vejo o Bin Ben ou quando o sol de fim de tarde ilumina St. Pauls Cathedral. Ou quando desço Regent Street e chego àquela zona em que se começa a ver o reflexo dos néons de Picadilly. Ou quando relaxo nos infinitos parques da cidade. Ou até quando tomo o pequeno almoço no meu café favorito, onde posso ler livre de turistas e do burburinho do centro. E quando vou de manhã para o emprego e me sinto como se estivesse a viver uma realidade que não a minha, o sonho de outra pessoa.

E quando penso tudo isto, sorrio e desacelero o passo para apreciar esta cidade maravilhosa.